Sonia Netto Salomão

Sonia Netto Salomão é Professora Catedrática Sênior de Língua e Tradução Portuguesa e Brasileira no Departamento de Estudos Europeus, Americanos e Interculturais da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Roma, La Sapienza. Forma-se em Letras (Língua e literaturas vernáculas) na Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo como professores, para a Língua e a Filologia, mestres como Celso Cunha e Leodegário de Azevedo Filho e, para a literatura portuguesa, Cleonice Berardinelli e Jorge Fernandes da Silveira. Obtém o Mestrado (UFRJ, 1980) em Literatura brasileira, com o conceito de “Excelente”, com uma tese sobre a censura teatral no Brasil do século XIX, sob a orientação do Prof.  Afrânio Coutinho, publicada com o título de Censores de pincenê e gravata (Rio de Janeiro, Codecri, 1981), premiada pelo INACEN (Instituto Nacional de Artes Cenicas). O trabalho reveste-se de um valor histórico específico naqueles anos difíceis de combate à ditadura militar no país e foi logo completada, para a publicação, com entrevistas a figuras da vida nacional que tiveram obras censuradas, como Chico Buarque de Holanda, João Chaves, Amir Haddad, Plínio Marcos e outros, um ato ainda raro naquele período. Era também uma Análise de Discurso e inaugurava uma disciplina nova e importante da linguística, a partir do cruzamento dos pareceres dos censores com o discurso oficial da polícia e da ideologia dominante no período, com base nos documentos inéditos encontrados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A seguir, obtém o Doutorado (UFRJ, 1987) em Teoria da Literatura, com o conceito de “Excelente”, com uma tese sobre a narrativa brasileira contemporânea, pós-64, sob a orientação do Prof. Eduardo Portella, em trabalho enriquecido pela sua experiência como colaboradora das páginas literárias do “Jornal do Brasil” e de “O Globo”. Diversos capítulos da tese são publicados em revistas nacionais e estrangeiras. Nesta fase (1980-1999) foi professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) onde ensinou Literatura Brasileira e Teoria da Literatura, inaugurando cursos de cultura afro-brasileira e de literatura para a infância, gênero ao qual dedicou vários estudos. Ainda no Brasil foi também assessora do Departamento de Educação do Município do Rio de Janeiro e Diretora de Planejamento da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), seção brasileira da Unesco, quando trabalhou no Projeto Ciranda de Livros, da Rede Globo, levando livros às favelas e aos mais remotos cantos do Brasil.

Em 1990, vence um bolsa de Pós-Doutorado do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e se especializa na Itália sobre os estudos semióticos e filológicos, publicando em 1993 um volume intitulado Tradição e invenção: a semiótica literária italiana, da editora Ática de São Paulo.

Nas bibliotecas italianas, como a Biblioteca Vaticana, a Casanatense, o Arquivo dos Jesuítas, pesquisa o material relativo à permanência de Antônio Vieira em Roma, de 1669 a 1675, reconstruindo o contexto histórico dos sermões pregados e escritos em italiano, ainda dispersos nos arquivos, e publicando-os, em versão moderna; em volume: A. Vieira, Sermão da Sexagésima. Com uma rara versão italiana de 1668, Brasília, Senado Federal, 1997; A. Vieira, Sermões italianos, Viterbo, Centro Studi Antonio Vieira / Sette-Città, 1998; A. Vieira, As lágrimas de Heráclito, São Paulo, Editora 34, 2001.

É contínua a atividade de promoção da literatura portuguesa e brasileira através da coordenação de volumes de autores como Clarice Lispector (Água Viva, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1990), Josué Montello (Notte su Alcântara, Milano, Bompiani, 1997), Antônio Vieira (Sermone di Sant’Antonio, ai pesci, Genova, Marietti, 1999) , Antônio Celso, (“La Porta di Gerusalemme”, org. com S. Peloso. Trad. de L. Galli, Viareggio-Lucca, Mauro Baroni Editore, 1999), Machado de Assis (Quincas Borba, com trad. de E. Tantillo, Viterbo, Sette Città, 2009); Ana Maria Machado ( L’audacia di quella donna (org.) com trad. de C. Menchi, Roma, Nuova cultura, 2023).

Publicou, ainda, diversos ensaios e estudos sobre a língua, entre os quais os volumes Da palavra ao texto, estudos de linguística, filologia, literatura (Viterbo, Sette Città, 2007, com reedições); A língua portuguesa nos seus percursos multiculturais (Roma, Nuova Cultura, 2012) e Temas da língua portuguesa: do pluricentrismo à didática, (Roma, Nuova Cultura, 2020). Ocupou-se, também, de aspectos culturais, literários e linguísticos de autores como Eça de Queirós, Agostinho Neto, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Guimarães Rosa, com particular atenção aos estudos de tradução, privilegiando a comparação entre os códigos linguísticos e culturais das versões português / italiano. A Machado de Assis dedicou vários estudos sobre as suas traduções italianas e aos aspectos relativos à ironia. Em volume, Machado de Assis: dal “Morro do Livramento” alla Città delle Lettere, Viterbo, Sette Città, 2007, com reedições e Machado de Assis e o cânone ocidental: itinerários de leitura, Rio de Janeiro, EdUERJ, 2016 (Prêmio Jabuti 2017). Em italiano, Machado de Assis e il canone occidentale, poetica, contesto e fortuna (Roma, Carocci, 2023), igualmente premiado (Prêmio do Júri, Pegasus International, 2024; Primeiro lugar na categoria “Ensaio” do “Premio Letterario Internazionale ‘The Alchemy of Poetry’– Italia-Londra 2024”; Diploma de Mérito na Categoria “Ensaios” do Prêmio “I Murazzi”, 2024) e Machado de Assis, a complexidade de um clássico (Sapienza University Press, 2024, org.).

Possui mais de 150 títulos publicados, 15 volumes  individuais e 18 volumes coletivos, artigos e ensaios, dedicados aos temas da censura, da literatura popular, do barroco de Antônio Vieira e aos seus inéditos, do oitocentos de Machado de Assis e de Eça de Queirós, da narrativa brasileira  e portuguesa do novecentos. Nos últimos anos tem-se dedicado à história da língua portuguesa e aos problemas teóricos da tradução. Entre os seus últimos trabalhos, Traduzione, tradizioni (Costellazioni, 7, 2018); Machado de Assis e il canone occidentale, poetica, contesto e fortuna (Roma, Carocci, 2023), “Livre no tempo e em pedra aprisionada”: Roma nas culturas de língua portuguesa (org. de Salomão, Russo, Bertolazzi, de Marchis, Celani, Roma, Nuova Cultura, 2024 )e de Machado de Assis: A complexidade de um clássico, (Org., Coleção Studi e Ricerche/Studi latinoamericani, Roma, Sapienza University Press, 2024). Em 2023 foi agraciada com a Medalha Rio Branco no grau de “Comendador” pelo valor científico dos seus trabalhos e da sua ação cultural em favor da cultura brasileira a nível internacional. Em 2024 a Casa de Cultura Dirce Riedel da Universidade do Estado do Rio de Janeiro prestou-lhe uma homenagem à carreira, com a gravação de um depoimento público.

Sonia Salomão, enfim, fundou com Silvano Peloso a Cátedra Antônio Vieira, patrocinada pelo Instituto Camões de Lisboa, que dirigiu de 2015 a 2023, sendo hoje sua Pesquisadora Sênior. É membro da Academia Romana de Filologia e Sócia Honorária e ex Presidente da Associação Italiana de Estudos Portugueses e Brasileiros (AISPEB, 2019-2022), além de membro de diversos Conselhos editoriais na Itália e no exterior. Dirige a coleção LusoBrasiliana, dedicada a temas relativos à complexa área científica que conjuga não só Portugal e Brasil como também a África e algumas áreas asiáticas de língua portuguesa, e é codiretora da Rivista di Studi Portoghesi e Brasiliani, de classe A. É também conferencista convidada por instituições como a Accademia dei Lincei, a Fundação José Saramago, a Fundação Casa de Rui Barbosa, a Biblioteca Municipal de Madrid, a Harvard University e a Harvard/DRCLAS Brazil Studies Program e por universidades como as de Lisboa, Rio de Janeiro, São Paulo, Évora, Barcelona, Nancy, Rennes, Napoli, Perugia, Viterbo, Venezia, University of California, Santa Barbara, University College London, entre outras.

Sonia Salomão

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